O papel do copiloto: muito além do “segundo piloto”

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Para muitos passageiros, a cabine de comando de um avião parece um ambiente misterioso, onde um comandante experiente assume todas as responsabilidades enquanto um copiloto apenas assiste e auxilia em pequenas funções. No entanto, a realidade é bem diferente. O copiloto, ou Primeiro Oficial, tem um papel essencial na operação de qualquer voo e desempenha funções que vão muito além de ser um “segundo piloto”.

Com o avanço da aviação comercial e a implementação de rigorosos protocolos de segurança, a operação de uma aeronave se tornou um trabalho em equipe. O conceito de “capitão absoluto”, que tomava todas as decisões sozinho, ficou no passado. Hoje, o trabalho dos pilotos é altamente coordenado, e o copiloto tem atribuições cruciais para garantir a segurança e a eficiência de cada voo.

Divisão de responsabilidades na cabine

Diferente do que muitos pensam, a operação de um avião comercial segue uma estrutura bem definida. Durante cada fase do voo, as funções de quem pilota e de quem monitora são distribuídas para maximizar a segurança e reduzir a chance de erro humano.

Em voos comerciais, o comandante e o copiloto alternam entre as funções de:

  • Pilot Flying (PF) – Piloto que efetivamente controla a aeronave, seja manualmente ou gerenciando o piloto automático.
  • Pilot Monitoring (PM) – Piloto que monitora a operação, verifica parâmetros do voo, se comunica com o controle de tráfego aéreo, gerencia checklists e auxilia o Pilot Flying.

Normalmente, o comandante e o copiloto revezam essas funções em diferentes voos ou fases do voo. Isso significa que o copiloto também assume a pilotagem ativa em muitos momentos, e não apenas em emergências.

O copiloto e a tomada de decisões

Uma das responsabilidades mais importantes do copiloto é atuar como um segundo par de olhos e ouvidos dentro da cabine. Mesmo que o comandante tenha mais experiência, o copiloto deve ser capaz de identificar riscos, alertar sobre possíveis problemas e tomar decisões em conjunto.

Em diversas situações críticas, o copiloto pode ser a peça-chave para evitar um acidente. Um dos princípios fundamentais da aviação moderna é o Crew Resource Management (CRM), um conjunto de práticas que enfatiza a comunicação eficiente e a hierarquia flexível dentro da cabine. Em outras palavras, o copiloto deve ter segurança para questionar o comandante caso perceba algo errado, mesmo que isso signifique desafiar alguém mais experiente.

A história da aviação tem exemplos de casos em que copilotos salvaram voos ao intervir no momento certo. Por outro lado, também existem tragédias causadas por copilotos que não conseguiram questionar uma decisão errada do comandante devido a barreiras hierárquicas ou falta de treinamento em CRM.

A importância do treinamento e da experiência

O copiloto não é apenas um piloto de apoio, mas sim um comandante em formação. Para chegar a esse posto, ele já passou por um longo caminho de estudo e treinamento rigoroso. A jornada de um copiloto normalmente inclui:

  1. Obtenção da licença de piloto comercial – Antes de ingressar em uma companhia aérea, o piloto precisa acumular experiência em voos de pequeno porte e demonstrar proficiência técnica.
  2. Treinamento específico para aviões comerciais – Dependendo da empresa, o copiloto passa por cursos e simuladores para aprender a operar aeronaves específicas, como um Boeing 737 ou um Airbus A320.
  3. Acúmulo de experiência e avaliações internas – Para ser promovido a comandante, um copiloto deve atingir um determinado número de horas de voo e passar por avaliações periódicas que testam suas habilidades em situações de emergência e tomada de decisão.

Muitas companhias aéreas adotam um modelo de progressão que pode levar anos até que um copiloto assuma a posição de comandante. Durante esse período, ele aprende a gerenciar diferentes tipos de operações, voa em condições meteorológicas variadas e desenvolve sua capacidade de liderança.

O copiloto em emergências

Um dos maiores equívocos sobre o papel do copiloto é a ideia de que ele só assume o controle caso o comandante fique incapacitado. Embora isso possa acontecer, essa é apenas uma pequena parte de suas atribuições.

Em muitas situações de emergência, a divisão de tarefas entre comandante e copiloto é essencial para garantir uma resposta rápida e eficiente. Algumas dessas situações incluem:

  • Falhas mecânicas – Enquanto um piloto mantém o controle da aeronave, o outro segue checklists de emergência e se comunica com os controladores de voo.
  • Condições meteorológicas adversas – O copiloto pode ser o responsável por monitorar radares meteorológicos e ajudar na decisão de desvios de rota.
  • Procedimentos de aproximação e pouso complexos – Em aeroportos com condições desafiadoras, como Congonhas em dias chuvosos ou aproximações em montanhas, o copiloto pode ter um papel tão ativo quanto o comandante.

Além disso, muitas emergências exigem coordenação imediata. Um bom exemplo disso ocorreu no voo US Airways 1549, o famoso “Milagre do Hudson”, onde o copiloto Jeff Skiles foi fundamental para auxiliar o comandante Chesley “Sully” Sullenberger a pousar o Airbus A320 no rio Hudson, salvando todos os passageiros.

O papel do copiloto vai muito além de ser um “segundo piloto”. Ele é um profissional altamente treinado, essencial para a segurança dos voos, e desempenha funções que exigem raciocínio rápido, conhecimento técnico e habilidades de comunicação. Em um ambiente onde cada detalhe conta, o copiloto é um elemento indispensável na cabine de comando, contribuindo diretamente para a segurança e eficiência da aviação.

Então, da próxima vez que você entrar em um avião e ouvir os anúncios da tripulação, lembre-se: quem está ali no assento da direita não é apenas um assistente, mas um profissional preparado para qualquer situação e pronto para assumir os controles a qualquer momento

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