Por que os pilotos dizem “Mayday” em emergências?
Se você já assistiu a filmes de aviação, provavelmente ouviu pilotos repetindo “Mayday! Mayday! Mayday!” no rádio em meio a uma situação de emergência. Mas você sabe de onde vem esse termo e por que ele é usado na aviação?
A comunicação em emergências precisa ser clara, universal e reconhecida instantaneamente, sem margem para dúvidas. “Mayday” é o código internacional usado para indicar que uma aeronave enfrenta uma situação grave e precisa de assistência imediata. Ele não é uma palavra qualquer escolhida ao acaso – tem uma origem bem específica e segue um protocolo rigoroso de uso.
A origem do termo “Mayday”
O termo “Mayday” foi introduzido nos anos 1920 por Frederick Mockford, um oficial de rádio britânico que trabalhava no aeroporto de Croydon, na Inglaterra. Com o tráfego aéreo entre a França e o Reino Unido crescendo, era necessário um termo que pudesse ser entendido por pilotos e controladores de ambos os países.
Mockford propôs “Mayday”, derivado da expressão francesa m’aidez, que significa “ajude-me”. O som da palavra era distinto o suficiente para ser reconhecido mesmo em transmissões de rádio com interferências e ruído, tornando-se ideal para uso em emergências.
O termo foi oficialmente adotado como o sinal internacional de socorro na aviação e na navegação em 1927. Desde então, ele se tornou um padrão global, sendo utilizado em todo o mundo para indicar situações críticas que exigem ação imediata.
Como os pilotos fazem uma chamada de Mayday?
Quando uma aeronave enfrenta uma emergência que coloca em risco a segurança do voo, a tripulação deve comunicar a situação imediatamente ao controle de tráfego aéreo. Para evitar confusão com comunicações normais, o protocolo exige que o termo “Mayday” seja repetido três vezes seguidas no início da transmissão. Isso garante que a mensagem se destaque e não seja ignorada por acidente.
A estrutura da chamada de emergência segue um formato padrão:
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O piloto repete “Mayday” três vezes, alertando que a comunicação é de emergência.
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Em seguida, informa a identificação da aeronave, permitindo que os controladores saibam quem está solicitando ajuda.
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Depois, descreve a natureza da emergência, como uma falha de motor, incêndio a bordo ou despressurização.
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A posição e altitude são informadas para que os controladores possam oferecer a assistência adequada.
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Por fim, o piloto comunica suas intenções, seja retornar ao aeroporto, tentar um pouso forçado ou precisar de outro tipo de auxílio.
Um exemplo prático de uma chamada de Mayday seria:
“Mayday, Mayday, Mayday! Aqui é o Bianch 123, estamos com falha total de motor, a 8.000 pés, 20 milhas ao sul do aeroporto de Curitiba. Solicitamos pouso imediato.”
Se a emergência for séria, mas não imediatamente catastrófica, os pilotos podem utilizar um outro código: “Pan-Pan”. Esse termo, também repetido três vezes, indica uma situação de urgência, mas sem risco iminente de perda da aeronave. Um exemplo de uso seria no caso de um passageiro com emergência médica, onde o piloto poderia dizer:
“Pan-Pan, Pan-Pan, Pan-Pan. Aqui é o Voo 123, temos um passageiro com emergência médica, solicitamos prioridade para pouso.”
O que acontece após um Mayday?
Assim que um controlador de tráfego aéreo recebe uma chamada de Mayday, a aeronave recebe prioridade total no espaço aéreo. Isso significa que outros aviões podem ser desviados para liberar a rota, garantindo que a tripulação possa lidar com a emergência sem interferências.
Dependendo da situação, medidas imediatas podem ser tomadas, como preparar um aeroporto para um pouso de emergência, com bombeiros, ambulâncias e equipes de resgate já posicionadas. O controle de tráfego também pode fornecer recomendações operacionais, como informações sobre meteorologia, pistas disponíveis ou até mesmo sugerir procedimentos para minimizar os riscos.
Se houver outras aeronaves próximas, os pilotos podem ser instruídos a ficar atentos e relatar a condição visual da aeronave em emergência. Em situações mais críticas, aeronaves de defesa aérea podem ser acionadas para escoltar o avião e prestar assistência.
Casos reais de chamadas de Mayday
Curiosamente, nem todas as chamadas de Mayday terminam em desastre. Muitas vezes, os pilotos conseguem resolver a situação e pousar em segurança, demonstrando o alto nível de treinamento e a eficiência dos protocolos de emergência. Casos famosos demonstram como essa comunicação pode salvar vidas.
Um dos mais conhecidos é o voo Air Canada 143, em 1983, apelidado de “Gimli Glider”. Uma falha de abastecimento fez um Boeing 767 ficar sem combustível no meio do voo. A tripulação declarou Mayday e conseguiu pousar a aeronave em uma antiga pista militar, sem vítimas.
Outro exemplo icônico é o voo US Airways 1549, em 2009, conhecido como “Milagre no Hudson”. Após uma colisão com aves que apagou ambos os motores, o piloto Chesley “Sully” Sullenberger declarou Mayday e realizou um pouso seguro no Rio Hudson, salvando todos a bordo.
Há também o voo British Airways 5390, de 1990, onde o para-brisa do cockpit se desprendeu em pleno voo, sugando parcialmente o comandante para fora da cabine. O copiloto assumiu o controle, declarou Mayday e conseguiu pousar a aeronave em segurança.
Esses exemplos mostram como o uso adequado da comunicação de emergência, combinado com treinamento eficiente, pode evitar tragédias e garantir que vidas sejam salvas.
O termo “Mayday” não é apenas um jargão da aviação – ele é um dos pilares da segurança aérea. Criado para ser reconhecido internacionalmente e evitar mal-entendidos, ele permite que pilotos alertem rapidamente os controladores sobre situações de risco e recebam assistência imediata.
E da próxima vez que ouvir “Mayday” em um filme, você saberá que essa palavra tem uma importância real e vital na aviação.